agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, outubro 02, 2015

Tatuagens obscenas e primeiros rabiscos para uma experiência

Sobre essas tatuagens:

Considerar a cidade um CORPO: extenso, poroso, espaço para ser percorrido, tocado, acariciado e perfurado. Delicadas cicatrizes. Cidade: corpo repleto de tatuagens. Superfície-pele habitada por marcas, relevos, linhas, formas, grafias, cores, parte alta, parte baixa, parte erógena.

Considerar as coreografias dos passantes, seus gestos e ações, suas corporalidades, suas movimentações - rabiscos provisórios a criar diferentes camadas, velocidades e lentidões, pausas, danças automatizadas, pequenos desvios.

Considerar ações, intervenções, composições, ocupações artísticas como desenhos que tatuam PRESENÇAS, conflitos, afetos, memórias, estranhamentos nesse corpo. Tatuagens móveis e poéticas a riscar o corpo urbano e inscrever o pequeno, o sutil, o incerto, o desconhecido e o obsceno.

Imagem de  Tiago Franco

Considerar a cidade com suas cidades: a pública, a privada, a comum, a revelada, a disfarçada, a maquiada, a mapeada, a rejeitada. Tem sempre algo tatuado nessa carne. Tatuagens obscenas por ainda se fazerem atos humanos, instauração de encontros, criação de furos e fendas na parte dura desse corpo. Mas não sangra. O que escorre é sempre vida, potência, alegria, pequenas gotas e leves respiros.

Considerar essas tatuagens como tentativas de desorganizar esse organismo que se chama cidade. Numa intenCIDADE, poetiCIDADE, multipliCIDADE de pequenas ações alimentadas por utopias. Fazer amor com a cidade? Levar seu corpo a suar frio, gozar quente, gemer baixinho. 

Considerar o embate que se trava entre o orgástico e o orgânico: tecer desvios, resistências, "perder tempo para ganhar espaço", tentativa de tornar esse corpo mais vibrátil, vulnerabilizar esse corpo em sua parte adoecida para que o poder estabelecido dance novas paisagens. Desproteger certezas, caminhar mais tranquilo, subverter os discursos de medo e os imperativos do consumo, criar uma cidade lúdica e possível, ainda que momentaneamente.

Considerar esse corpo da cidade como um corpo sujo e se sujar com ela e nela. Ações para se tatuar e depois apagar. Possibilitar o comum, o singular, a fresta, a festa, o sensível em meio ao invisível. Não impor nada. Mas com-por, dispor, despudorar. Perder espaço para ganhar presença. 

Considerar e recuperar essa ideia de tatuagem como algo marginal: inscrições nos corpos dos navegadores, viajantes e piratas. Sinais de uma vida outra  que corre paralela ao cotidiano ordinário. Há uma pirataria submersa nesse mar aparentemente controlado. Trazer nossos navios para o espaço. São de papel, fragilidade pura, não para conquistar espaço, mas para colorir e tentar criar heterotopias.

Considerar esse corpo-cidade sempre por se fazer. E nessas ações poéticas somos o lado perdedor. Perder autoria para dialogar com as pessoas e espaços. Perder o lugar de artistas para nos vulnerabilizarmos como cidadãos. Cantar para a cidade "quero ficar no teu corpo feito tatuagem, prá te dar coragem quando a noite vem..." E com medo sempre reiniciamos!

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