agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, junho 21, 2008

2º MOSTRA . IDÉIAS VAGAS.COMO PRESERVAR O MEIO AMBIENTE?

FRAGMENTO Nº 01
O que temos nós a ver com Paulo Nazareth?
"Paulo é (a própria imagem) de um andarilho (que)caminha com a ajuda de um bastão...nao parece se importar com a roupa...na sua frente se estende uma paisagem árida.É um louco,dirão alguns.É um sábio, concluirão outros, ao olharem para os pés que se apóiam firmemente sobre o chão de terra batida. Fora dos muros,fora da cidade dos homens, fora do jogo ele avança.Louco ou sábio, continua andando com seu embornal carregado de objetos misteriosos...
E, ao acaminhar, ele faz o jogo acontecer porque, sem nenhum número para identificá-lo - Zero ou XXII?fim ou começo? Ele transita,simultaneamente, no centro e nas bordas do mundo.
Deslocams pessoas,deslocamso coisas,conceitos - desterritorizamo-os a partir do nosso próprio deslocamento", conforme escreve Maria Angélica sobre este artistas em exposiçao no palácio das artes.
O que me chama a atençao no texto de Angélica, é justamente este olhar sobre o referido artista e o impacto de sua ação.
Algo dele se aproxima de alguma forma daquilo que propomos nesta mostra.Ou nesta experiência de agora. Transitamos também, sem identificaçao,ora anônimos,ora com olhares rotuladores.Andamos no centro e nas bordas...catando materiais,instalando... do mundo feminino? Nao sei.Mas, certamente, do centro belo horizontino.Avançamso sabiamente.A gestação,conforme proposta por moacir outrora, evolui para a quarta semana.Amadureceu.Amadurecemos nós. A conduta vaidosa e espetacular de ontem, reduziu-se á uma ação despretenciosa e mais aberta á "colaboração"(embora ainda tenho dúvidas quanto ao processo de colaboração nesta prática), á experimentação . Ao ouvir e ao falar.
Senti-me fazendo teatro.
Quem é atuante?os atores,dramaturgos,diretores, performer´s ou o público?ou o espaço?ou os objetos?
Vida e arte se misturam, confundindo quem passa,quem pára, quem vai. Quem fica, nao vê estória."Nenhum de nós quis construir estória!"Fizemos sim, ações.E cada um fez a sua. O que esteve confuso pra nós, ficou confuso pra eles. O que estav claro para nós, reverberou neles.
As inquietaçoes discutidas,discutiram ou apontaram eles.
Construímso um jogo.O público - hoje colaborador de afto-, aceitou as regras e fez o jogo virar. Aconteceu num fluxo.Cedemos espaço ee lees, cederam ações. Compartilhamso melhor o espaço, inclusive com o público; as propostas...Tivemos um público suficiente.Será que de fato o público deste trabalho, nao é oq e vem á deriva, e qeu passa, sem compromisso?Sendo tomado ou nao pelo caminho das flores? Permanecendo ou nao no jardim anti-representativo?O nosso trabalho,ainda depende do público : é teatro.
Nao represenatr confundiu a realidade com a ficção.Tornamo-nos gente vivendo a idéia. "Vida pulsando": o teatro tentou se aproximar da vida, sem representá-la.Criamos espaços de compartilhamento, de colaboraçao.Desenvolvemos generosidade criativa.
Na dispersão externa, estávamso internamente concentrdaos ,atentos...A simultaneidade "evidenciou contrastes"e potencializou todas as propostas, toda a idéia de descontruir imagens e relaçoes lineares.
Ao final,tudo é confundido com macumba.Tamanha a confusão proposta.
Embora poucos saibam realmente o que é e como é.Contudo, nada podem fazer, além de indignar-se, pois,"preconceito,todos podem ter,mas, discriminar, ninguém pode"(conforme afirma o deputado Eduardo Barbosa em seminário sobre educação).
Neste caso, aprece-me que a imagem-conceitual instaurada há décadas,diz mais que a imagem real de uma mulher "sendo", neste universo. Acho que, neste caso, o "meu espaço" não é meu.Considero-o de fato da figura feminina, de forma a atingir o efeito esperado. Passo então á margem do corpo/atuador direto e me coloco á disposiçao da "entidade" diretora

terça-feira, junho 17, 2008

SEGUNDA MOSTRA DO OBSCENA

Será que o Obscena realizou mesmo uma mostra ?Se mostrou , mostrou o quê ? O que é mostrar ? Voltei ao estudo do Barrio e há uma citação de uma de suas ações que considero muito interessante e pertinente aos últimos trabalhos :

'' LANÇO EM CONFRONTO SITUAÇÕES MOMENTÂNEAS COM O USO DE MATERIAIS PERECÍVEIS NUM CONCEITO DE BAIXO PARA CIMA.''

A pesquisadora Merle Ivone Barriga analisa mais detalhadamente essa citação em sua dissertação de mestrado e há um ponto que ela afirma ser fundamental salientar : a escolha da expressão '' lançar''. Segundo ela, '' lançar não é aleatório''. É diferente de expor, apresentar, mostrar. Lançar em confronto é de alguma forma ABANDONAR uma proposta para a ação, reação e intervenção de um outro ou de um coletivo.
Para mim essa foi a característica mais marcante desse processo aberto ao público no Teatro Marília. Lançamos nossos materiais perecíveis e fronteiriços aos transeuntes e lhes convidamos a um ato de confrontação.
Nessas ações lançadas e depois abandonadas havia o desafio de se produzir materiais sem qualquer possibilidade de uma leitura única ou a construção de uma narrativa clara. Eram ações com seu tempo, espaço e atuação muito próprios. Algumas ficavam no limite entre ação política e ação artística e outras totalmente fora do aspecto espetacular. Nesse sentido verifica-se uma certa proximidade com as ações de Barrio.
Segundo BARRIGA (2006:62)

'' As ações de Barrio aproximam-se muito mais da ação humana imersa no caos da realidade e se afastam da idéia mais consagrada de espetáculo- e em geral de obra de arte. Outro aspecto destas ações que interessa salientar neste estudo- pelos estímulos que podem despertar na cena contemporânea- é aquele que diz respeito ao tipo de narrativa utilizada. Artistas plásticos da contemporaneidade, muito mais que artistas teatrais, se vêem mais sujeitos ao imperativo da narrativa encadeada.''

Na caminhada performática que propus, pude perceber os criadores teatrais atuando como artistas plásticos e dispondo seus objetos perecíveis de forma não mimética ou narrativa.
Na instalação de Willian ( no domingo), Nina entrou com seu corpo e alterou a estrutura e a imagem dadas. O '' corpo como suporte ''- o corpo-presença de Nina não era superior ao material, estava de alguma forma completando e problematizando a instalação. Numa cena teatral o corpo, na maioria das vezes, ocupa um lugar privilegiado.
É arte ou macumba ? O processo exposto abriu essa questão. Alguém que passava pr ali nomeou a mostra : é despacho. De alguma forma despachamos caos, agressividade, desordem e estranhamento pela cidade. Como é possível ser arte se não tem nada de belo, legível e codificado ?
Os elementos das ações de Barrio estiveram também presentes nas ações '' obscenas '' : texto, espaço, tempo, produto, materialidade e autoria. Vale uma pesquisa individual de cada criador para identificar de que forma esses elementos foram tratados em suas proposições.
Percebemos que a maioria das pessoas tem uma percepção automatizada do cotidiano da cidade.
Nossas ações tentaram ser uma espécie de ruptura para esses corpos tão automatizados.
Penso em Chklovski : '' estamos diante de um fenômeno artístico toda vez que um procedimento foi intencionalmente removido do âmbito da percepção automatizada.''
A arte como estranhamento para superar as aparências e alacançar uma compreensão mais profunda da realidade. Questões como : esses objetos que recolhi na caminhada são mais femininos ou masculinos ? Então alguns conceitos são colocados em suspensão.
Houve uma contaminação dos procedimentos que se juntaram ao longo três dias. A simultaneidade das ações gerou uma justaposição de imagens, sensações e novas percepções.
É arte ou macumba ?
Eu respondo : É VIDA ABANDONADA NA VIDA...........

12 nomes, 12 títulos de uma memória recente

Em entrevista exclusiva à Rede Cultura, Clarice Lispector falava de sua última obra, sobre uma mulher de uma inocência pisada, riscada pelo tempo , e tão pobre que só comia cachorro quente. Quando o entrevistador perguntou o nome do romance, Clarice, enfática, disse: Doze nomes, doze títulos! Este romance viria a ser a sua principal obra: A HORA DA ESTRELA. Uma obra advinda da margem, da miséria invisível, discreta, da miséria que sai pelas portas do fundo, calada, da miséria que não interrompe o cotidiano, pois é anônima.
Na mostra da Obscena, exploramos a margem que tenta não ser anônima, pois ela desperta um sentimento discreto de vingança, uma identificação com outros seres transeuntes que nos interrompem também com suas reações imediatas às nossas propostas.
Nomes para estes encontros? Doze nomes , doze títulos, e peço alguém no mundo que me dê resposta:
A MULHER NÃO EXISTE, OU;
A MORTE SOCIAL, OU;
A GENTE NUNCA É, A AGENTE ESTÁ, OU;
A MULHER É UM URINOL, OU;
O HOMEM QUE VESTE A MULHER MORTA, OU;
VENDO-ME POR QUILO, OU;
COMPRE-ME A PRAZO, OU;
A RUA, O INESPERADO, OU;
FELIZ ANIVERSÁRIO, OU;
ANDANDO À MARGEM EM CÂMERA LENTA;
O CONTORNO, OU;
A SEDE É TUDO, A IMAGEM TAMBÉM, OU;
A BONECA DE MARFIM, OU;
OU;OU;OU;
Tais nomes não vêm para esclarecerem a mostra, mas criar outras questões diante dela, como
qual é o lugar do outro?
Quando Grotowski fala em seu livro sobre o ENCONTRO, vejo neste entre meio uma energia circular que promova este encontro, pois o diálogo aconrteceu, e eu, pasmem! Fiquei mudo diante daquilo que era oferecido pelo "público", em uma trajetória não linear de suor, remédios tarja preta, distúrbios do sono, lutas anti-manicomiais, e sofrimento mental.
Percebi como aprendi mais do que pude ensinar. Pois um mendigo se compadeceu, oferecendo sua única marmita, como faria um ser humanista que poderia governar o mundo, um ator em risco, a compadecência. E finalmente não reduzimos tudo à macumba, e sim á morte da mulher, uma mulher feita para ser urinada e dizer amém! Uma mulher que come em meio aos vinhos e mortadelas, um lugar onde o homem não pode entrar: a cozinha... a faxina...
Pois homem que é homem manda! O Homem que come tudo, come a mulher, as roupas, a vida, e engole até seu nome, pondo o sobrenome de macho no final. O desenho dos corpos da mulheres sendo descritos e os fetiches do açougue dos classificados: quem dá menos? quem dá menos? você compra ela por um buquê, por um perfume, por um "eu te amo", por uma cama bem macia, e em troca ela ganha o direito às varizes, aos partos e talheres, à faxina nos buracos minúsculos, estreitos.
Viva ao santo dos artistas: São Genésio!
Graças á você, São Genésio, podemos ver a miséria e nos identificar com ela. E a miséria tem tantos nomes, como Maria, Joelma, Renata, Carla, Matilde, etc.
Uma miséria marcada pela violência doméstica, pela ausência, pelo quase, pela tarefa de vida diária, pela divindade materna.

"Há pessoas que são tão pobres, mas tão pobres, que só têm diheiro."
Viva São Genaro.

segunda-feira, junho 16, 2008

sem propósitos II

Obscena, diário de bordo. Sobre a mostra work in process

Segunda-feira, dia 16 de junho de 2008.

Estamos à deriva... Ou, pelo menos, eu estou...
No primeiro dia, procedimentos de Idelino, William, Lica, Didi e eu. No segundo dia, procedimentos de Marcelo, Moacir, Mariana, Saulo, Patrícia e, novamente, eu. No terceiro dia, a caminhada performática proposta por Clóvis. E estamos à deriva...
Os procedimentos não deveriam espelhar a bagagem conquistada? As relações entre os elementos de pesquisa e a trilha percorrida até agora? Não deveriam espelhar nossas pesquisas em termos não só de tema, mas de elementos de linguagem e também de função? Posso deixar eu de ser dramaturga? Como contribuo para o meu caminho ao assumir outros papéis?
Como contribuo com o outro somente emprestando este meu corpo dramaturga para uma atuação? O corpo da dramaturga age como um corpo de atuante? Existe nele a mesma energia/presença/preparo? Não representar significa não colocar-se em jogo/risco teatral? É meu corpo cotidiano que levo para esta experiência?
Uma dramaturgia do instante é a mesma coisa de uma performer que escreve em corpos desenhados no chão e em vitrines?
COMO COMPOR AÇÕES NO MOMENTO DO JOGO?
Como jogar elementos de uma dramaturgia em processo com os elementos dos atuadores/encenadores? Como aprofundar esses materiais tão efêmeros?
Estamos na hora da virada. É preciso pegar o boi pelo chifre e agarrar o touro à unha.

Nina Caetano

quinta-feira, junho 12, 2008

Deriva performática

02/06/2008

Caminhar sem rumo pode parecer fácil, pode parecer bobagem. Dado que mendigos quase sempre fazem isso, cães sem dono quase sempre fazem isso, loucos em devaneio fazem isso, perdidos quase sempre, caçadores de bicho na roça e de sexo na cidade também fazem, a poesia caminha sem trajetória certa.

Caminhada sem rumo. Os mortos na zona sul estão mais vivos do que nunca. O cheiro da deriva adocicado de importados. Garagens, portões, janelas, prédios, calçadas varridas, seguranças sem bandidos, cães de raça, pouca cachaça, polícia que esculacha, caminhadas de exercício, limpeza fictícia, dinheiro, muito dinheiro gasto nas construções. Passava recolhendo restos do bom. Os objetos determinavam o roteiro, o olhar comandava, o corpo todo escolhia. O tempo não deu muito tempo. O fluxo corporal não pára de pensar. O fluxo não cansa, quer mais, andança. Quis perder de verdade durante momentos. Quis exaurir o físico. Quis sofrer cansaço. Quis correr, parar, apressar, retrair. Quis alcançar a cidade toda. Quis morrer de andar. Quis ter tempo.

Madame do lixo do outro lado da rua. Ela se aproxima, encontro, senta, conversa, descansa, vai. Mariana. Sentir mais um pouco do espaço. Hora marcada de retorno. Perdido? Por instantes, sensação. Procura da volta. Deriva com hora marcada é realmente deriva?

Performática dos objetos. Garrafa vazia de vinho importado, flores horizontais, borracha de freio, caixa de papelão, tira branca de azulejo, mais flores do mal. Um pequeno altar sem querer num beco sem saída. Uma quase oração, ceia para os mortos e despedida. Caminhada até a pesquisa. Bolo, café, suco e guaraná. Ceia para os vivos.

Deriva performática por quê? Não deveria responder, mas não agüento. Por hábito e costume, caminhamos todos os dias e, muitas vezes, nos perdemos. Nem por isso, parece-me, estamos fazendo performance artística. Mas, na verdade, importa o deslocamento de contexto, de tempo da ação, de intenção, de função, de objetivo e não sei mais o quê. Neste sentido, caminhar perdido à procura do ponto de ônibus parece a mesma coisa que andar derivando pela cidade. Mas, não é. A sutileza do deslize muda muita coisa. O comportamento é revisitado e recriado a partir de outras perspectivas, com automatismo sim, porém consciente, com caráter questionador e escrutinador, etc. “Performances são feitas de pedaço de comportamento restaurado, mas cada performance é diferente das demais. Primeiramente, pedaços de comportamento podem ser combinados em variações infinitas”. Isso quem disse foi Schechner na página 28 do texto “O que é performance?” na revista O Percevejo, ano 11, 2003, nº 12.

Deriva performática: deslocamentos acerca de comportamentos ordinários...

quarta-feira, junho 11, 2008

"A VULNERABILIDADE DOS CORPOS": são imagens com mais de 70 anos...

Um outro espaço.Pobre de objetos.Pobre de significados.Sem significado.O chão de homens e mulheres sem saber. Adapatando-se.
- Tem prática hoje? É homem.
- Tem prática hoje? É mulher.
- Não, não tem senhoras e senhores!O que tem é prático: 2 homens e uma mulher, ditos de crença evangélica "geraçao alguma do senhor jesus", invadem templo umbandista no Rio de Janeiro e jogam para o chão todas as imagens expostas no altar.
- Tem prática hoje?
- Não, nao tem.Tem imagens no chão.O chão é o limite dos corpos.Tudo que é materia,ao cair, se quebra.Ou nem tudo.Mas, vai ao chão, mesmo que nao se quebre.
Hoje, homens e mulheres não caíram, mas, estão no chão.E tudo que vai ao chão, é lixo.Torna-se lixo.
O chão abaixo dos pés.Homens e mulheres comem.bebem. Não comem.Não bebem.
- Quem propôs isto aí?
O que importa quem?Nao conseguiu identificar quem?
Homens e mulheres lúcidos, diante de olhares embriagados.Uma imagem no chão.Os corpos cobrem tudo. O grupo chama atenção. É uma legiao. De demônios? Não. De homens e mulheres. No chão.
Jogaram todas as imagens fora.Estou em contratempo,nao tenho tempo para explicação.Homem ou mulher?MULHER.O meu corpo nao dá.Confunde.Corpo de homem confunde.Tenho vontade de descartar os homens.E eles estao entrelaçados nas mulheres.Homem ou mulher? Muher.Eu? Eu quero as mulheres.Todas ou quem quiser...comer...comer no chão. beber. Fumar. Gargalhar. No chão...invadem um centro umbadista no rio de janeiro e jogam para o chão as imagens expostas no altar.Por que o chao é onde as imagens se quebram,se espatifam. Se faz em pedacinhos.
Porque lugar de "mulher" é no chao, comendo e bebendo feito bicho, chamando os homens de tesão.Porque lugar de mulher é no chão, fazendo aquilo que é gostoso.Sem cerimônia.
sem finesse.
Rindo de suas próprias mazelas.Porque lugar de mulher é na rua.Vestida
ou
nua.
Desejando.Provocando.
Lugar de mulher é na rua, vagando,violando os templos sagrados e quebrando todas as imagens cultuadas com ela e sacralizadas nela.
Por que é santa a profana.Sem profanar a santa.Principalmente por que influenciou a religião cristã ,no dominá-las em "bondade, pureza e justiça."E bondosas, puras e justas, elas estiveram e estarão na rua, oferecendo aos homens um cálice de...
muitos dirao que ela está posssuída.Por que é de noite.
De dia cuida dos filhos e do marido.
Á noite,
senta-se ás portas do teatro
para uma assembléia noturna.
Numa noite de segunda-feira, pouco antes da meia noite.
PRECISA-SE DE MULHERES
que nao conheçam barrio, disse mulheres licas, nao é interessante!
PRECISA-SE DE MULHERES
que nao conheçam barrio, mas, que mostrem a barriga.E que também fumem e bebam com seu próprio dinheiro.Que sejam casadas ou solteiras,mas, que saiam á noite.
Que tenham a caapcidade de coagir e manipular, através do conhecimento de sua própria e mágica vontade.
Mulher sem frescuras.Que disponibilizem a bunda na rua, para ajeitar-se em qualauqer canto e ver a lua.Com os homens.
Sentados embaixo do letreiro,Onde se lê: Marília!.
que além do nome, não houve, nem haverá nada em cartaz.
Precisa-se de seres vermelhos.Seres que mestruem.
Não sou mulher, de modo que não posso.
Precisa-se de mulheres livres!
que me traga de novo o eixo.o centro.o corpo. material. colaboração.barrigas e barrios de possibilidades para não atuar instalando.Ocupando.
PRECISA-SE DE MULHERES
que reforcem as imagens quebradas dos santos cultuados e a violência que pretenderei impingir sobre elas, para elas impingirem sobre eles!
Idê Júnior

copyleft

Primeira parte: A preparação

Transeuntes passavam pela rua. Preto, vermelho, pipocas, vinhos. Uma surpresa até para o grupo. Uma instalação que interrompeu o nosso cotidiano, nos forçando a reunir na rua em meio à multidão. Não sabiam se era macumba, protesto, mas ficavam intrigados, buscando talvez uma definição lógica para aquele discurso visual.
Sentamos descalços, tentando nos calçar do que seria a próxima mostra. Várias sugestões advindas do núcleo foram votadas e aceitas como a simultaneidade, a caminhada performática no domingo, e os dias de cada um, em um tempo mais dilatado para a mostra e para a discussão com o público.
Decidimos também por uma rotatividade de mediadores em que cada dia uma pessoa aplicará sua forma de dar seqüência ao debate, e nos comprometemos, com isto, a falar menos, ou como diria a Lica: “Ficar de olhos e ouvidos abertos”.
Clovis pontuou um caminho ainda pouco pesquisado por nós: em meio a este tempo de grandes processos de direitos autorais, ele pontilhou um caminho de possibilidades que visem uma produção coletiva, em que o sistema autoral fosse ocultado, em prol da união construtiva, algo que conheço pouco, talvez pela minha formação, ou pelo meu ego de artista criador, ainda selado em mim.
Fico intrigado e tentarei me abrir para tais propostas vindouras, que inserem o copyleft em detrimento ao copyright.
Talvez este suspiro criador questione:
Até que ponto um autor é totalmente detentor de sua obra?
Até que ponto sua idéia não pode ser coletivizada sem que se cobre absurdamente para isto?
Até que ponto as editoras, gravadoras, grandes produtoras, serão sócias bancárias- lucrativas- decisivas nos processos de criação artística?
“Esta terra não é só minha!” – diria Brecht
“Este mundo não é meu” – diria Arnaldo Antunes
Em meio esta construção busco encontrar qual será a minha frase. Talvez nossa.

terça-feira, junho 10, 2008

A cidade das mortas



Obscena, 09 de junho de 2008.

Existe uma idéia muito forte na imagem de uma cidade de mortos. Esta cidade, invisível, submersa sob a outra cidade, a dos supostos vivos, preenche algumas das lacunas desse quebra cabeça obscênico. De que modo me aproprio dos elementos da pesquisa em minha pesquisa individual? Como relacionar meios e temas? São formas e conteúdos? Embalagens vazias, mortos simulacros de vivos também já moribundos? Quais são os meus objetos? Quais relações situações persigo/me perseguem?
Estamos em obras. A mostra é Work in process... Mulher(es) em construção.
Desculpe-nos o transtorno, mas estamos trabalhando com você. Co-laborando. Como juntar os fios à teia? Os fios barrio narrativas ocupações instalações caminhadas performáticas dança criativa? Os fios objetos mulheres margens construções de gênero? O que me persegue? Que imagem está no meu caminho origem deriva? Como traduzo no corpo ação gesto proposta? Como jogo com o jogo representação? Imagem cópia imitação?
Engraçado, porque, em sua origem, a imagem é o simulacro de um morto: imago. Para mim, esses mortos objetos estão relacionados a essa origem da imagem...
Lidar com a idéia de representação. Mulher em processo diário de construção. A obra já começa na Barriga... Se menina, rosa. Se menino, azul. E os brinquedinhos e decoração e carrinhos e bonequinhas porque você já é homem e você já é uma mocinha. Fica feio mulher falar assim. Homem é mais atrevido mesmo... Ah, será mais fácil educar menina porque é dócil ou menino porque não há dúvida?
Frigideira. Pano de prato. Bico. Fralda. Trocar. Lavar. Passar. Perdoar. Esquecer. Esquecer. As margens. Minhas margens de mulher. Arestas. Buracos. Becos. As mulheres são mais tolerantes, compreensivas. Repito. Mulheres são muito melhores que os homens. Repito. Após escândalo e crise, Ronaldo é visto com a noiva. Repito. Onde está o acontecimento capaz verdadeiramente de me atravessar? De tocar em mim no meu corpo? Blindado estetizado mediatizado embalado plastificado possuído? Dia dos Namorados C&A celular. Preços que vão pegar você de jeito.
Júnior Lima está solteiro. Segundo uma coluna do jornal Expresso, terminou o namoro de um ano do cantor com a estudante de direito Sheila Santos, de 24 anos. Enterrada menor de treze anos, estuprada e morta. Cem mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil.
Anita. 18 a. rosto de menina, corpo de sereia, malícia de mulher. Adoro todas as idades! Liberal c/ carinho. Sem pressa. Ap. c/ DVD erótico.
Hidratantes, sutiãs, botox, plástica, mamadeira suco tang fruta na polpa tomar minha cervejinha brahma, boêmia, skol, original delivery light diet jet bronze entrega rápida príncipe por encomenda herói da tv do filme de ação um homem pra chamar de meu homens de plástico meu homem mulher embalados para presente fast food sexo silicone espaço do sal do som do silêncio da água do barro barrio.
A imagem é devoradora dos corpos? De mortos? Dessas embalagens vazias preenchidas de desejos vazios? De sonhos de consumo? De eternas princesas domesticadas pela tv?
a ação física o gesto. O gesto. O gesto.
A imagem duplicada. Simulacro. O objeto morto. Esse corpo imagem morto objeto em construção. Duplicação. Repetição? Ser mãe é padecer no paraíso. Repito. A mãe é a culpada de tudo. Repito. É de pequeno que se torce o pepino. Repito. Mulher é mais delicada mesmo. Homem não, né? Homem é mais animal, né? Repito. Um rapaz identificado apenas por Leandro é suspeito de matar Ronilson da Silva Dias Batista, de 25 anos. A polícia acredita em vingança, já que Ronilson foi acusado de estuprar uma menina de 11 anos, prima de Leandro. São todos iguais. Ele mama muito, é que homem é mais guloso. Mulher também: são todas iguais. Bonequinha. Xuxuzinho. Uma coisinha linda. Ficou tão bonitinha de vestido. Não importa se embrulhada em algodão ou seda. É um filezinho. Uma coisinha linda. Uma gatinha. Gostosa. Gostosa. Um filé. Embrulhada em papel de presente. Gostosa. Uma cadela. Cachorra. Safadinha. Vadia. Vaca. Puta. Puta. Galinha. Piranha. Piranha. Mulher.
Mulher. O ser humano do sexo feminino capaz de conceber e parir outros seres humanos e que se distingue do homem por essas características. Esse mesmo ser humano considerado como parcela da humanidade. A mulher na idade adulta. Adolescente do sexo feminino que atingiu a puberdade. Moça. Cônjuge do sexo feminino. A mulher em relação ao marido. Esposa. Mulher à toa. Mulher da comédia. Mulher da rua. Mulher da vida. Mulher da zona. Mulher. É importante não perder a ternura jamais. Não perder a doçura jamais. A sensualidade da mulher jamais. Sua feminilidade jamais. A dor e a delícia de ser o que é.
Mortos a fabricar mulheres. Na embalagem. No plástico. No lixo.
E as margens pulam para o centro.

Nina Caetano
p.s.
Princesas domesticadas pela tv.
É importante ver além das margens. Algo está fora, na ordem. O fora é o centro. Na forma. No molde.
Objeto morto. Mostra junho. Registros de minha passagem na terra.

A cidade das mortas

Proposta para uma situação/ação dramatúrgica.
Narrativas jornalísticas poéticas científicas dicionarescas inventadas documentais.
Embalagens plásticas metalizadas produtos de limpeza cosméticos mantimentos eletrodomésticos utensílios do lar higiene pessoal familiar.
Giz. Fita crepe. Marcadores.
Corpos de mulher. Instalações de objetos e narrativas.
Escritas no momento? As notícias recortes de jornal?
Anita. 18 a. rosto de menina, corpo de sereia, malícia de mulher. Adoro todas as idades! Liberal c/ carinho. Sem pressa. Ap. c/ DVD erótico.
Enterrada menor de treze anos, estuprada e morta. Cem mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil.
Júnior Lima está solteiro. Segundo uma coluna do jornal Expresso, terminou o namoro de um ano do cantor com a estudante de direito Sheila Santos, de 24 anos.

MOSTRA OBSCENA : CAPACIDADE DE MOSTRAR-SE E ARRISCAR-SE

Parte externa do Teatro Marília. Alfredo Balena movimentadíssima. No chão estão sentados vários criadores bebendo vinho e discutindo procedimentos para a próxima mostra dos processos de pesquisa do agrupamento OBSCENA. Estamos acomodados sob tecidos vermelho e preto e rodeados por velas brancas e vermelhas. É uma instalação do criador Idelino Júnior. Do lado de fora, como se abrindo os trabalhos da noite, estamos nós nessa '' macumba coletiva e colorida '' a intrigar os olhares dos transeuntes.
Interessante essa instalação do nosso colega obscênico, já que além dele pesquisar o universo marginal das pombas giras , de alguma forma ele repete um ato sagrado nos rituais afro-brasileiros que é '' pedir licença a Exu e dá-lo algo de comer'', é o famoso Padê de Exu, por exemplo no candomblé.
Esse povo , essa Linha da Esquerda, são Mensageiros espirituais muito fortes e atuam no campo da COMUNICAÇÃO. A atenção e o respeito dados à eles não é gratuito. Acredita-se que eles protegem, inspiram e favorecem a utilização de recursos como a transgressão e a transformação.
São os seres que não temem tocar nas feridas e não negam as SOMBRAS que habitam todos os homens e mulheres. Não fogem dos conflitos, amam o caos , as lutas, se lambuzam com as dores e desafios e sempre dizem que '' a vida não é para gente fraca''.
As pomba giras nos falam o tempo todo de DESEJOS e que tudo tem um preço a ser pago . Mas se tem desejo , meio caminho já se andou.....
Mas voltando aos obscênicos .......
Discutimos e decidimos alguns procedimentos para a mostra : simultaneidade , caminhada performática , trabalhos solos, investigações com tempo determinado , utilização de objetos e corpos para serem abandonados, etc. Vejo os estudos teóricos reverberando nessa nova prática e o agrupamento buscando novos lugares de experimentação.
Nina falou em '' procedimentos relacionais '' e esse termo me chama a atenção. Como podemos criar mecanismos para chegar no espectador e convidá-lo para uma AÇÃO ? Um ponto que me fascina em Barrio é a '' dessacralização '' do artista e da obra de arte . Como diminuir a distância entre aquele que propõe e aquele que é provocado ? Barrio abandona seus objetos , atua como um contra-regra, e deixa que o transeunte estabeleça uma relação totalmente livre com a obra, até sem saber que '' aquilo'' foi elaborado por um artista. Vejo aí uma grande transgressão no trabalho do artista português . Será que é abrir mão de uma autoria e deixá-la livre para a criação e apropriação do Outro ? Então todos podemos ser artistas ?
Tudo isso me lembra uma ação de um coletivo performático que no Chile em plena ditadura política jogou de um avião quatrocentos mil panfletos para várias comunidades que se viam impedidas de receber arte ou qualquer tipo de informação. Transcrevo o pequeno e '' obsceno '' texto :

NÓS SOMOS ARTISTAS.
NÓS SOMOS ARTISTAS, MAS CADA HOMEM QUE TRABALHA PELA AMPLIAÇÃO , MESMO QUE SEJA MENTAL, DE SEUS ESPAÇOS DE VIDA É UM ARTISTA.
O TRABALHO DE AMPLIAÇÃO DOS NÍVEIS HABITUAIS DA VIDA É A ÚNICA OBRA DE ARTE VÁLIDA.
A ÚNICA EXPOSIÇÃO.
A ÚNICA EXPOSIÇÃO.
A ÚNICA OBRA DE ARTE QUE VIVE.

Agora voltando à nossa reunião , ainda discutimos sobre o que é uma relação colaborativa e a atuação de artistas criadores . Alguns de nós ainda vivemos o conflito, ou o medo de nos arriscarmos e colocarmos nossas pesquisas a público . Esquecemo-nos de que somos investigadores , nosso compromisso é buscar, refletir, perguntar, duvidar e arriscar sempre.
Acredito que a angústia faça parte da criação, mas não pode nos paralisar na ação . Não é fugindo ou buscando '' ficar de fora'' que se resolve um impasse. Escrevo isso com o maior respeito aos meus colegas obscênicos, já que uma relação colaborativa se estabeleceu ontem quando um criador foi confrontado com seus medos e '' sombras '' e convidado a transgredir seu '' não saber''.
Para mim um momento fértil e importante dessa pesquisa, quando o outro é chamado a '' implicar-se '' com aquilo que ele mesmo escolheu. E assim vários fantasmas eram convidados a se sentarem à mesa de reuniões e um a um eram ouvidos e depois simplesmente desapareciam porque deixavam de ser fantasmas . E ainda se podia ouvir as gargalhadas de Exu e das pombas giras, já presentes desde lá fora, diante de nosso mal estar e da nossa dificuldade de lidar com o caos, o desconhecido, o risco, etc.
Nessa mostra , mais uma vez, nossa coragem e capacidade de arriscarmos. Não devemos abandonar jamais o rigor de nossa pesquisa , mas um pouquinho de transgressão e ousadia não fazem mal de jeito nenhum...............

segunda-feira, junho 09, 2008

entre carcaças... deixe-se levar pelo fluxo

Casa de Nina. Noite. Horário de Pico. A proposta era sair atrás de objetos e fazer uma instalação. Quais objetos? Que tipo de instalação? Não há especificidades, regras... bastava abandonar o corpo aos fluxos da noite, das carcaças, das flores, dos barulhos do Sion. Caminhei rumo ao nada! Sem medo de me perder! E quebrava uma esquina, duas, três até que encontrei um objeto: uma luva de hospital em borrões de sangue velho misturada às sujeiras. ( obs: Nesse instante me lembrei que terei que fazer um exame de sangue!). Peguei com certo nojo aquele objeto e caminhei... logo a frente achei um galho seco de arvore. Peguei e coloquei a luva, revestindo uma de suas partes. Cheguei em uma praça e lá achei um sapato preto que fedia muito... segui em frente e passei por um prédio, um cheiro de perfume extasiante, que parecia que alguém acabara de passar por ali. Fiquei em silêncio: "Me descasquem para que eu possa estar livre", sem artíficios"... Lá na esquina com a luz dos olhos de um gato pardo, ela: Bem dita flor entre os detritos. Peguei suas pétalas rochas e as guardei no bolso. Hora dodespacho: o que significa todos aqueles objetos? Não busquei respostas, apenas sensações. Desencontro, ruas escuras, cheiro de damas da noite com misto quente, olhares perdidos e desconfiados. Os transeuntes me olhavam... eu estava apenas andando, sem rumo e com objetos. O que isso importa? Só sei que por alguns segundos eu me perdi:Rua tal, número tal, refêrencia(????) olhei para um lado: silêncio... lúxuria; olhei par outro: silêncio... você está sendo filmado! Deseperado olhei para esquina: silêncio... Venha adquirir cultura hispânica! Ufa!! Me localizei e aproveitei para deixar minha instalação: ao montá-la, ouvi, bem de longe, um aluno falar que precisaria estudar para a prova de história. O assunto parecia ser sobre alguma guerra... Em seguida, depois de ter montado minha instação, a abandonei! Abandonar foi uma palavra que me foi marcante, sobretudo depois que ouvi aquela voz do estudande.Segui adiante rumo ao ap de Nina!

DIDI
Casa de Nina. Noite. Horário de Pico. A proposta era sair atrás de objetos e fazer uma instalação. Quais objetos? Que tipo de instalação? Não há especificidades, regras... bastava abandonar o corpo aos fluxos da noite, das carcaças, das flores, dos barulhos do Sion. Caminhei rumo ao nada! Sem medo de me perder! E quebrava uma esquina, duas, três até que encontrei um objeto: uma luva de hospital em borrões de sangue velho misturada às sujeiras. ( obs: Nesse instante me lembrei que terei que fazer um exame de sangue!). Peguei com certo nojo aquele objeto e caminhei... logo a frente achei um galho seco de arvore. Peguei e coloquei a luva, revestindo uma de suas partes. Cheguei em uma praça e lá achei um sapato preto que fedia muito... segui em frente e passei por um prédio, um cheiro de perfume extasiante, que parecia que alguém acabara de passar por ali. Fiquei em silêncio: "Me descasquem para que eu possa estar livre", sem artíficios"... Lá na esquina com a luz dos olhos de um gato pardo, ela: Bem dita flor entre os detritos. Peguei suas pétalas rochas e as guardei no bolso. Hora dodespacho: o que significa todos aqueles objetos? Não busquei respostas, apenas sensações. Desencontro, ruas escuras, cheiro de damas da noite com misto quente, olhares perdidos e desconfiados. Os transeuntes me olhavam... eu estava apenas andando, sem rumo e com objetos. O que isso importa? Só sei que por alguns segundos eu me perdi:Rua tal, número tal, refêrencia(????) olhei para um lado: silêncio... lúxuria; olhei par outro: silêncio... você está sendo filmado! Deseperado olhei para esquina: silêncio... Venha adquirir cultura hispânica! Ufa!! Me localizei e aproveitei para deixar minha instalação: ao montá-la, ouvi, bem de longe, um aluno falar que precisaria estudar para a prova de história. O assunto parecia ser sobre alguma guerra... Em seguida, depois de ter montado minha instação, a abandonei! Abandonar foi uma palavra que me foi marcante, sobretudo depois que ouvi aquela voz do estudante. Segui adiante e cheguei no ap de Nina!

quinta-feira, junho 05, 2008

O Segredo do Rei.




O Segredo do Rei

Sair de Mariana. Viagem. Descer na Igreja. Subir até a Buenos Aires. Casa da Nina, 20 horas. Sair em deriva, medo de me perder. Viro a esquina e Lica na caçamba com uma moldura na mão. Na caçamba, tesouros, muitos. Caixas, Plásticos, bolinha de gude, cigarro, roupa de boneca e um livro escrito por uma menina chamada Isadora Torga Bellini que tem 7 anos e estuda no Santa Doroteia, dedicado aos pais e a tia helena e nele continha o Segredo do Rei . Tinha vontade de entrar na caçamba, de mergulhar. Mas a prudência. Peguei uma caixa grande de edredon da Dysney e coloquei tudo lá dentro. Continuei a caminhada. Encontrei uma porta na frente de uma banca. E Saulo. Atrás da porta quadros da julia, pelos traços uma menina. Tecidos, mais caixas, e coisas que eu nunca jogaria fora, fita crepe, tintas. Fiquei na duvida. Estavam mesmo jogados fora? Perguntei para Saulo ele não soube responder. Peguei os quadros e a fita crepe.Segui. Em uma rua transversal, outra caçamba, e uma pessoa mexendo nela. Artista?Lixeiro? . Fui lá. O Porteiro do prédio ao lado perguntou:- Ce conhece ele? Disse não, senhor. Senti vontade de vestir o plástico e as luvas de plástico que achei na outra caçamba. Vesti. Me senti muito bem .O porteiro me perguntou :-Por que se veste assim. Disse que eu gostava e achava bonito. E segui. Encontrei beijo, uma flor que costumava dar para minha mãe todos os dias na minha infância e minha mãe oferecia para Nossa Senhora. Peguei. Às vezes me sentia uma modelo da alta costura às vezes ridícula. Algumas pessoas passavam por mim como se andar daquela forma fosse normal. Outras poucas me olhavam de soslaio. De repente olhei para o lado e vi uma mulher sentada em um beco sem saída, ou era uma escultura, o que era aquilo? Enigmático. Senti-me chamada. E parecia que tinha encontrado o lugar. Quando me aproximei, era o Willian, sentado atrás de seus objetos. Sentei ao seu lado por alguns instantes, retomei as forças e segui desta vez para baixo. Todo santo ajuda. Não agüentava mais. Estava começando a pesar. Vi uma academia e na mesma rua uma butique, com um cartaz enorme de uma loira mais que perfeita de Photoshop. Coloquei os objetos. Os quadros da Julia expostos. As caixas uma dentro da outra e algumas surpresas dentro. Plásticos envolta da caixa maior. Sentei-me na caixa e descobri o Segredo do rei. Li em voz alta. Tinha um carro parado com uma moça dentro. Mal tinha acabado de ler a moça se foi. Li para ninguém. O Segredo do rei , era uma Historia escrita por Isadora, muito interessante onde ela conta que um rei que não tinha uma orelha e tinha vergonha de sua condição , escondia o fato com uma peruca e que só o seu barbeiro sabia do seu segredo. Um dia o barbeiro morreu e ele anunciou que precisava de outro. Um outro jovem apareceu e o rei pediu que ele não contasse a ninguém, o jovem prometeu. Então os dois subiram na torre e o novo barbeiro cortou o cabelo do rei. O jovem não estava agüentando guardar aquele segredo, então pegou um pedaço de bambu e gritou lá dentro: - O rei não tem orelha, por isso usa peruca. E enterrou o pedaço de bambu. Só que daquele pedaço, nasceu um bambuzal e as pessoas tiravam o bambu dali para fazer flautas. Porem as flautas que eram feitas daquele bambu, só tocavam: - o rei não tem orelha, por isso usa aquela peruca. Logo todos do reino descobriram o segredo do rei e o rei tirou a peruca que era muito quente mesmo e só usou no carnaval. Deixei o livro de Isadora, ali. E segui meu caminho até a casa de Nina, novamente. No meio, uma ligação. Nina perguntando se estava tudo bem. Quando cheguei, todos já estavam lá. Não senti vontade de contar o que havia acontecido. Relatei como se tudo fizesse parte do Segredo. E como se fosse Segredo.

quarta-feira, junho 04, 2008

Sete Objetos para um Despacho Vermelho

Caminhada performática. Deriva. Estar perdido pra se encontrar. Obscênicos saem do apartamento de Nina Caetano e se perdem no Sion.
Saímos......
Sigo a rua Grão Mogol. Tenho um exercício a fazer : recolher objetos, escolher um lugar, montar uma instalação e depois praticar um ABANDONO.
Fui andando......O olho percorrendo espaços e direções e de repente um encontro precioso : uma fita vermelha. Pronto, um universo então se abre. '' Lá vem a Pomba Gira, mulher de sete maridos ! ''
Continuo à deriva e logo depois encontro um papel vermelho de picolé abandonado no chão do passeio. Vem comigo que eu te aceito !!!!! E assim o vermelho passa a ser meu GUIA, meu orientador dessa caminhada de fé e de coragem. E vou encontrando mais restos vermelhos abandonados e desprezados.
Passo em frente a uma casa paroquial e penso que encontrei o lugar ideal para um despacho vermelho. Mas o caminho é mais longo, e eu o sigo, é um fluxo que não posso e não consigo interromper.
Mais achados preciosos confluindo para minha pesquisa : uma garrafa de cerveja com rótulo vermelho, um maço de cigarros, um pedaço de papel, etc.
Chego na ponta da Grão Mogol com a Contorno e me deparo com um monumento vermelho, meu altar : um hidrante bem na encruzilhada de várias ruas. Fico arrepiado e sinto que o lugar já estava escolhido.
Ajoelho-me no chão e vou dispondo os objetos. Um susto - são exatamente sete objetos, eu me dava conta disso naquele momento. Feito meu trabalho artístico, me viro e vou-me embora sem olhar para trás...... '' Está entregue .''
Retorno e começo a reparar os carros vermelhos estacionados, as roupas vermelhas das madames que adentram os restaurantes e os olhos vermelhos de cansaço dos vigias negros da classe média branca daquele bairro.
Exercício concluído e a sensação de ter entrado num tempo-espaço extra-cotidiano e numa percepção mais apurada das cores.
Era como se eu tivesse feito minha romaria vermelha, reverenciando as entidades da rua e no recolhimento desses refugos às vezes tão poéticos eu pudesse confirmar suas poderosas presenças..........

terça-feira, junho 03, 2008

SIMPLESMENTE UM FLUXO

EXPERIMENTO DO DIA 02/06

SIMPLESMENTE UM FLUXO

Buenos Aires.Exercício á Deriva.Nina. A casa.Saõ 19 horas e 40 minutos.Temos 50 minutos para a realizaçao do exercício,á deriva.O tempo não me incomoda,é pouco,mas,sei que dará pra realizar apenas um.E á deriva saio.Um homem caminhando pela rua, á deriva.As pessoas não olham,não observam nada.Espero algo acontecer.Fico apenas ansioso para que algo aconteça...de repente um flor de macaco.Eu gosto de flor de macaco e apanho.Objeto miúdo.E eu,um anônimo.As coisas começam a surgir.Apanho no chão, sem cisma,certo da açao.De repente,folhas diferentes,parecem casco de tartaruga...folhas...papéis..matos...uma tábua d ecaoxote com pregos.Começo a acaminhar com um volume imenso de coisas,objetos. Um labirirnto de ruas.Nao sei onde estou.Não tem saída.Onde ir?Retorno tentando achar outro lugar possível.As pessoas olham.E á medida emq eu os objetos se aglomeram em minhas mãos,conversam entre si e olham.Eu nao as olho.Continuo normalmente no fluxo.Recolho objetos.Me desloco.De repente uma sacola preta de papael.Sem alça.Serve.Tudo que precisava para a liviar o peso que se fazia.Cacos de vidro.Também servem.Continuo no fluxo e estou á margem de Nosssa Senhora, a do Carmo.Num passeio vermelho e altamente exposto.Achoq ue era ali mesmo.Naquele extao local.Hora de despachar.Em frente de um canteiro,dispus os objetos em forma circular.Do outro lado,um menino,daqueles de sinal,tentava falar algo comigo que nao compreendi direito.Achoq ue em eprguntava: o que é isso aí?Abandonei lá.Sem olhar pra trás.O alarme apitou no exato momento em qeu me devencilhei do último objeto no espaço.O tempo foi meu guia.Foi num fluxo realmente.Nada pensado,nada programado.Nem objetos,nem espaços.As coisas surgem,mas, de repente,parece que você atrai as coisas das quais tem um interesse particular.O material lhe vem de forma que parace ser extamente para aquele fim.Não há tempo pra pensar,organizar,manipular,escolher,direcionar...é preciso apenas recolher e abandonar.Não há racional.Há um corpo que nao procura(disse um corpo,nao uma mente),mas que acha. E que "achando" nao encontra.E não encontrando,faz os objetos serem.Sou altamente desnecessário No.Talvez necessário Com.Há uma diferença entre o artista e sua obra?O tempo foi curto sem dúvida,mas, foi essencial para objetivar neste tempo,este momento.Idê

jornais e (des) classificados

Sair . Esvair. Pouco tempo para a proposta. Temos que ser precisos.
Saímos pelas ruas sozinhos, cada um em seu isolado lugar, seguindo o fluxo que apontava.
Procurei cheiros, algo que propusesse uma direção.
Encontro duas matérias orgânicas frutos de um mesmo lugar, um morto , um vivo.
A árvore, folhas, jornal, papéis, folhas.
Medo de me perder, propus um rastro de caminhos oblíquos feitos de papel, feitos de folha e rostos.
Observo os materiais orgânicos em decomposição, vejo: rostos, notícias - Cruzeiro avança! Como acabar com a calvície! Omo faz , Omo mostra! os jornais estampavam o progress - progresso - a sujeira da CPI.
Olho para os materiais. No escurao a árvore pendurada, as folhas penduradas, os galhos dependurados e resolvo devolver os papéis para o lugar de origem: a árvore. A mesma matéria, fruto de algo morto em algo vivo.
Penduro os classificados: compra, veste, troca, serve, zero, único dono, morreu ontem, procura, vende, vende-se, vendo-me, alugo-me por hora, agora. amém.

sem fluxo

Obscena, Segunda-feira, dia 02 de junho de 2008.

Derivas pela cidade. Caminhada sem rumo. Ou pelo menos, deveria ser. Não tive entrada franqueada na cidade dos mortos e esquecidos. Noite. Que cidade debaixo dessa cidade? A cidade é invisível? Olhares objetivos e o corpo sem presença. Deveria eu ter me preparado como alguns companheiros de jornada? Abandonar a cabeça e entrar no corpo bairro ruas de rumos para mim tão conhecidos. Praticar o estranhamento. Meu corpo olho não me obedece.
Saio pela avenida movimentada e o fluxo está lá fora nos carros. Não vejo o lixo nas ruas. Esses objetos mortos esquecidos dessa cidade. Tão lindo isso de objetos mortos de uma cidade dos mortos sob a cidade. Mas para mim são só garrafas e papéis e flores e bilhetes de loteria. E pedras, caixas de papelão. Parecem até um altar assim disposto nesse tronco de árvore. Meu corpo lê o jornal. Os carros passam. Estou sem fluxo.
Desço a rua em busca do fluxo. Coração da burguesia. Tenho prazer em recolher os plásticos desse lugar. Por que não estou com uma roupa mais discreta? Pareço já um personagem. As pessoas nem me olham estranham. Deve ser artista. E aqui as pessoas não estranham. São cosmopolitas.
Estranham sim a caixa de papelão instalada frente a uma loja chique de roupas femininas. Desagradável aparência de banca de camelô. O que está à venda?
Desagradável caminho de pedras fazendo obstáculo no caminho dos transeuntes da calçada. Minha obra é finda. Mesmo sem fluxo. Devo voltar.

Nina Caetano

domingo, junho 01, 2008

Uma Caminhada com Destino ao não dito.


O trabalho de hoje é uma caminhada que se apóia em recursos performáticos para o seu desenvolvimento. O condutor desta foi o pesquisador Obscenico Clovis, que anunciou mais ou menos os seguintes princípios:

“Nós vamos sair daqui desta sala, para uma caminhada, onde não sabemos ainda aonde ir, vamos nós comunicar através de outro viés, não vamos falar. Saindo daqui cada um observe o lixo da rua e recolha aquilo que de alguma forma lhe chamar atenção”.

E assim foi:

O centro da cidade de Belo Horizonte.
As calçadas.
Lançar um olhar no lixo urbano, um barulho imenso: buzina de carro, sirene de policia e ambulância, gritos, choro de crianças,latido de cachorro, desabafo de trabalhadora cansada...
Bilhetinhos, homens e mulheres jogados pelo chão feito: “lixo humano” o descaso.
A publicidade invasiva.
O saco de pipoca, o galho da arvore, a sujeira, a rodela de limão, as bitucas de cigarro, as flores, os vários saquinho de pipocas e chips, o curativo rasgado, o adesivo comprovando os doadores de sangue, os panfletos anunciando as palavras da bíblia.....

De alguma forma durante todo este percurso me remeteu ao documentário “ Estamira”,
Que tem como protagonista: Estamira Gomes de Sousa, aquela ex-catadora de lixo do aterro sanitário Jardim Gramacho, o maior da América Latina.
Os elementos que me fizeram remeter a pesquisa do obscena/ que chamei de: “caminhada com destino ao não dito”, a esta “ filosofa”( Estamira) foram: o lixo urbano, as profecias escritas nos papeis que peguei na rua, as falas que eu comecei a ouvir e depois eram cortadas no meio, a figura da Lica (pesquisadora obscenica, que fez o seu trajeto/caminhada, com um pau enorme na mão pelo centro de BH quase uma Antonia Conselheira, o cheiro dos bueiros, estes elementos de alguma forma estão presentes tanto no documentário “Estamira” como nesta “caminhada com destino ao não dito” realiza pelo agrupamento Obscena.

Estamira é a mulher que busca a sua sobrevivência através das montanhas de lixo, os Obscenicos foram os pesquisadores que se apoiaram em recursos performáticos e lançaram um olhar no lixo urbano para almejar um modelo não representacional.